Juros altos, falta de confiança do mercado no pacote de corte de gastos do governo federal, além do cenário internacional com perspectiva de redução de crescimento da China e as possíveis barreiras impostas pelos Estados Unidos aos produtos estrangeiros, são alguns dos fatores que devem ajudar a reduzir o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIBdo País, bem como do Estado, em 2025, na análise de economistas ouvidos pelo Diário do Comércio.
A ex-presidente do Conselho Regional de Economia – 10ª Região – Minas Gerais (Corecon-MGe nova presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Tania Cristina Teixeira, avalia positivamente o ano de 2024, já que aconteceram avanços no que se refere à reforma tributária e ao pacote fiscal. “O resultado do PIB (Produto Interno Brutofoi bom, acima do esperado. De fato, houve uma recuperação da economia brasileira”, analisa.
Já para 2025, a dirigente destaca que o ano vai começar com uma taxa de juros elevada e com mais altas, o que impacta negativamente setores e pessoas que necessitem de crédito. A taxa básica da economia (Selicestá em 12,25% ao ano.
Conforme o Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (16), a estimativa é que a taxa suba para 14% ao ano até o fim de 2025. A pesquisa é divulgada semanalmente pelo Banco Central (BCcom a expectativa de instituições financeiras para os principais indicadores econômicos.
“Juros elevados propiciam ganhos para o mercado financeiro e inibem o consumo e o investimento produtivo”, observa. Na análise de Tania Teixeira, diante desse cenário, o País deve continuar crescendo em 2025, mas não no mesmo patamar verificado em 2024.
Expansão do PIB em 2024
O economista e especialista em educação financeira no Grupo Suno, Guilherme Almeida, diz que o crescimento do Brasil neste ano foi estimulado pelo gasto do governo e, principalmente, pelo consumo das famílias, em razão da baixa taxa de desemprego, o que contribui para o aumento da renda.
“O problema desse tipo de crescimento é que ele se esgota rapidamente. Afinal, o mercado de trabalho é cíclico, sendo mais evidente em alguns setores”, observa o especialista, que também é colunista do Diário do Comércio.
Para ele, o consumo das famílias deve contribuir menos com o crescimento em 2025. Almeida explica que o que poderia substituir o modelo baseado no consumo é o investimento produtivo. “Só que, analisando o mercado hoje, o investimento produtivo não tem condições necessárias para crescer de forma robusta, que permita o PIB crescer acima de 3%, por um período de dois a três anos”, diz. O entrave é a falta de confiança do mercado, em especial no que se refere às questões fiscais.
Além disso, o aumento de um ponto percentual da Selic, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que aconteceu no último dia 11, provoca um aumento no gasto da dívida pública em R$ 50 bilhões, o que quase apaga o efeito do pacote anunciado.
Apesar dos entraves, ele diz não acreditar em retração da atividade econômica em 2025, em razão do carrego estatístico (herança estatística do crescimento do ano anterior no ano seguinte). “Devemos observar um crescimento da atividade econômica, só que mais contido do que em 2024”, analisa.
Conforme Almeida, em 2025, o agronegócio deve ganhar destaque, já que o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas deve totalizar 314,8 milhões de toneladas em 2025, alta de 7%, ou 20,5 milhões de toneladas maior do que a safra obtida em 2024.
“Agora, comércio e serviços devem ter crescimento mais contido em 2025, por causa do alto endividamento e inadimplência das famílias, além de um mercado de trabalho menos aquecido que o atual e redução de estímulos fiscais”, analisa. De acordo com ele, o crescimento pode ficar na casa dos 2%.
Almeida destaca que Minas Gerais tem atualmente uma das menores taxas de desemprego do País e tem, entre os pontos positivos, o estímulo à atividade produtiva implementado pelo governo do Estado. “Para 2025, a análise de Minas é convergente à brasileira”, diz.
Crescimento menos pujante em 2025
Para o economista Carlos Caixeta, a previsão para 2025 é de um crescimento superior a 2% ao ano, um cenário relativamente positivo, mas que não será tão “pujante como o verificado em 2024”. Assim como Almeida, ele aposta que o crescimento sustentado pelo consumo em 2024 pode desacelerar em 2025, devido à necessidade do BC de elevar as taxas de juros para cumprir as metas inflacionárias.
Caixeta acrescenta que a alta da dívida pública representa um risco para a sustentabilidade das contas públicas, limitando o espaço para novas políticas de estímulo à economia.
Para Caixeta, a partir de 2025, o Brasil enfrentará o desafio de conciliar a necessidade de crescimento econômico com a sustentabilidade fiscal e ambiental, além de se adaptar às dinâmicas de um mercado global em transformação, fortemente impactado pelo novo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que deve impor tarifas sobre importações estrangeiras. O país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, só perdendo para a China.
Nesse cenário, e com a redução do ritmo de crescimento da China, maior parceiro comercial de Minas Gerais, o cenário para 2025 para o Estado também é de crescimento, mas num patamar menor que o verificado em 2024. “Quando o País cresce, Minas também acompanha, só que um pouco mais”, analisa.
Para o professor de ciências contábeis e diretor da unidade Floresta da Estácio, Alisson Batista, a previsão também é de crescimento em 2025, tanto para o Estado como para o País.
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