Foram 111,7 mil registros em 2024, segundo levantamento da Polícia Civil de Minas Gerais, praticamente o dobro em relação a 2020
Os crimes cibernéticos, aqueles em que os criminosos fazem uso de computadores e da internet para cometer atos ilegais, cresceram 23,6% em 2024 em Minas Gerais. Foram 111,7 mil registros, segundo levantamento da Polícia Civil do Estado, praticamente o dobro em relação a 2020 (59 mil ocorrências), ano em que a pandemia confinou negócios e consumidores e ampliou o uso de serviços pela internet.
Agora, com o avanço e evolução da Inteligência Artificial (IA), a tendência é de sofisticação e crescimento ainda maior dos golpes contra empresas e consumidores.
Segundo a delegada titular da 2ª Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos de Belo Horizonte, Marcelle Bacellar, em 2024 já houve casos envolvendo a nova tecnologia. Ela cita como exemplo a ocorrência de um deputado que procurou a polícia após ser vítima da circulação de um vídeo em que criminosos usaram IA para simular sua voz e imagem pedindo doação para uma falsa campanha. “A IA é um campo fértil para a atuação dos golpistas”, afirma a delegada.
Esse tipo de prática é conhecida como deepfake e utiliza inteligência artificial, mais especificamente algoritmos de aprendizado profundo, para criar ou manipular conteúdos visuais e auditivos de forma extremamente realista. Isso inclui vídeos, imagens ou áudios em que a aparência, voz ou comportamento de uma pessoa é falsificado de maneira convincente.
O CEO da Aquarela Analytics, empresa de Inteligência Artificial e análise de dados, Marcos Santos, alerta que independente do porte, as empresas precisam se preparar para prever ataques.
“Dados, informações e conhecimento são fatores críticos de sucesso ou fracasso na sociedade digitalizada. Manter os ativos digitais seguros é tanto uma questão de continuidade e prosperidade quanto de derrocada e prejuízos, se eles forem mal geridos”, afirma o executivo.
Além do uso de deepfakes, ao analisar vastas quantidades de dados em tempo real, a IA detecta padrões e permite ataques mais direcionados, com maior precisão.
“A questão é como aproveitar os benefícios da IA para a cibersegurança sem abrir brechas para ataques”, defende Santos.
O coordenador de infraestrutura de TI e Segurança da Informação do Sebrae Minas, Guebio Carvalho, também enfatiza que assim como os criminosos estão usando a inteligência artificial para criar métodos de ataque, os especialistas em segurança também estão.
“Hoje temos várias aplicações de segurança de informação que utilizam inteligência artificial para combater o crime. Da mesma forma que eles estão se armando, a gente também está seguindo este caminho”, afirma.
Estelionato responde por mais de 50% dos golpes
Segundo a delegada Marcelle Bacellar, as pessoas físicas são as principais vítimas dos crimes cibernéticos, mas as empresas também são alvo e, nesses casos, normalmente os prejuízos são maiores. O crime de estelionato é o mais frequente, sendo responsável por mais de 50% das ocorrências no ano passado.
Segundo dados do Instituto DataSenado, mais de 40,85 milhões de brasileiros perderam dinheiro em função de algum crime cibernético, como clonagem de cartão, fraude na internet ou invasão de contas bancárias entre 2023 e 2024. Os golpes digitais vitimaram 24% dos brasileiros com mais de 16 anos nesses dois anos.
“O estelionato é mais comum porque o golpista usa a técnica da engenharia social, de conversar, de convencer. E a vítima acaba acreditando no que está sendo falado ou sendo enviado nas mensagem e, involuntariamente, acaba contribuindo para o êxito do golpe”, explica Marcella. Ela lembra também que a renovação é frequente. Até mesmo a tragédia provocada pelas enchentes do Rio Grande do Sul foi usada como isca para ludibriar os desavisados.
Proteger dados pessoais é fundamental para segurança
Pelo lado da pessoa física, o gerente de segurança da informação e defesa cibernética da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), Alander Faustino, destaca que é fundamental garantir que informações pessoais como nome, CPF, endereço, senhas e dados bancários sejam utilizadas e armazenadas de forma segura.
“Um exemplo clássico de erro é usar a mesma senha em diversos dispositivos e serviços. Se a senha for comprometida, todas as contas vinculadas ficarão vulneráveis. Isso facilita o trabalho de hackers, que muitas vezes testam combinações em vários serviços”, alerta.
A Federação Brasileira de Bancos (Febrabanrecomenda a instalação do aplicativo Celular Seguro nos aparelhos, sejam de uso pessoal ou corporativos. Fruto de parceria da Federação com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e Agência Nacional de Telecomunicações, a ferramenta foi desenvolvida para combater de forma rápida fraudes bancárias por meio do bloqueio de aparelhos celulares em casos de perdas, furtos e roubos.
O programa Celular Seguro possibilita que vítimas de furto e roubo de dispositivos móveis possam bloquear o aparelho e aplicativos digitais em poucos cliques, reduzindo o risco de golpes financeiros. Não há limite para o cadastro de números, mas eles precisam estar vinculados ao CPF do titular da linha para que o bloqueio seja efetivado.
Cada pessoa cadastrada no Celular Seguro poderá indicar pessoas da sua confiança, que estarão autorizadas a efetuar os bloqueios. Também é possível que a própria vítima bloqueie o aparelho acessando o site por um computador.
Para ter acesso, basta abrir a loja de aplicativos do aparelho e buscar por “Celular Seguro”, acessar a página do app e clicar para instalá-lo. Após a instalação, o aplicativo estará disponível para o uso.
Confira outras dicas para se proteger dos crimes digitais:
- Usar senhas fortes e diferentes para cada serviço;
- Ativar a verificação em duas etapas em todas as contas possíveis;
- Desconfiar de links e mensagens desconhecidas, especialmente quando prometem ofertas ou pedem informações pessoais;
- Manter dispositivos, aplicativos e antivírus atualizados;
- Limitar a quantidade de informações pessoais compartilhadas on-line, especialmente em redes sociais;
- Utilize o procedimento de bloqueio da tela de início do celular;
- Não utilize o recurso de “salvar senha” em navegadores e sites;
- Nunca anote suas senhas de acesso ao banco em blocos de notas, e-mails, mensagens de Whatsapp ou outros locais em seu celular;
- Não repita a senha utilizada para acesso ao seu banco para uso outros aplicativos, sites de compras ou serviços na internet.
Diario do comerio