As pessoas costumam se esforçar para alcançar algumas boas horas de sono por noite. No entanto, novas pesquisas indicam que há um ponto ideal de descanso que deve ser considerado — e evitar o excesso de sono pode ser fundamental para preservar a saúde do cérebro.
O estudo, publicado na revista Alzheimer’s & Dementia, revelou que dormir em excesso está associado a um desempenho cognitivo inferior.
O que o estudo revelou?
Os pesquisadores analisaram dados sobre cognição e duração do sono de mais de 1.800 pessoas, com idades entre 27 e 85 anos, sem diagnóstico de demência. Todas elas participaram do Framingham Heart Study, uma pesquisa comunitária realizada em Framingham, Massachusetts, nos Estados Unidos.
Os resultados mostraram que indivíduos que dormiam nove horas ou mais por noite apresentavam pior desempenho cognitivo. Esse efeito foi ainda mais evidente entre participantes com depressão, independentemente do uso de antidepressivos.
Além disso, o estudo apontou que os chamados “dorminhocos” eram mais propensos a relatar sintomas depressivos. Dessa forma, o sono pode ser considerado um fator de risco modificável para o declínio cognitivo em pessoas com depressão.
Por que dormir nove horas ou mais pode impactar a cognição?
Embora não seja a primeira vez que uma pesquisa encontra uma associação entre longos períodos de sono e menor desempenho cognitivo, o estudo reforça essa ligação.
“Dormir regularmente mais de nove horas por noite tem sido associado a um desempenho cognitivo inferior em alguns estudos — incluindo o nosso”, afirma a médica Vanessa Young, gerente da pesquisa.
Young destaca que dormir por períodos prolongados pode ser “um indicativo de que algo mais está acontecendo”. Isso pode incluir problemas vasculares, depressão, alterações na saúde cerebral, entre outros fatores.
“Embora não possamos afirmar com certeza se dormir mais leva a uma piora cognitiva, ou se pessoas com declínio cognitivo emergente começam a dormir mais, nossas descobertas sugerem que vale a pena prestar atenção quando há um aumento expressivo na duração do sono, especialmente se for uma mudança recente na rotina”, diz Young.
Segundo W. Christopher Winter, neurologista e especialista em medicina do sono, existe uma relação em forma de “curva J” entre sono e saúde. Ou seja, dormir mais nem sempre significa melhores resultados. “Geralmente, os melhores índices de saúde em adultos estão associados a cerca de sete horas de sono”, explica.
Qual é a quantidade ideal de sono?
Embora as necessidades variem de pessoa para pessoa, pesquisas sugerem que dormir entre sete e nove horas por noite é o mais benéfico para o desempenho cognitivo.
Ainda assim, Winter enfatiza a importância de respeitar as particularidades individuais e de observar sinais do próprio corpo. Ele recomenda prestar atenção em aspectos como o tempo que você leva para adormecer e como se sente ao longo do dia.
“Se você demora muito para pegar no sono, talvez esteja passando tempo demais na cama. Por outro lado, se tem dificuldade para se manter acordado durante o dia ou adormece rapidamente à noite, pode ser que não esteja descansando o suficiente”, explica o especialista.
Young reforça que não se deve presumir automaticamente que dormir mais é sempre melhor. “Como muitas coisas na área da saúde, o equilíbrio é essencial — e o sono pode ser apenas uma peça de um quebra-cabeça maior quando falamos sobre saúde cerebral”, finaliza.
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