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Articulações em risco: 12 milhões de brasileiros sofrem com osteoartrite

Publicada em: 17/09/2025 06:48 -

Doença crônica e degenerativa que afeta 3,5% da população brasileira, a osteoartrite cresce entre jovens esportistas, sobretudo mulheres, exigindo atenção para prevenção e diagnóstico precoce

 

A osteoartrite (OA), doença articular degenerativa que antes era associada quase exclusivamente ao envelhecimento, começa a atingir também mulheres jovens que praticam esportes. Estima-se que 15% da população mundial acima dos 30 anos sofra com a condição, sobretudo mulheres após os 60 anos. No Brasil, os números apontam para 12 milhões de casos — o equivalente a 6,3% da faixa etária adulta e 3,5% de toda a população. Forma mais comum de doença articular, a osteoartrite impacta quadril, joelhos, mãos, punhos, cotovelos, coluna vertebral e pés, sendo uma das principais causas de afastamento do trabalho e aposentadoria por invalidez.

A doença é caracterizada pelo desgaste progressivo da cartilagem que reveste as articulações, levando a dor, inflamação e limitação de movimentos. Embora a prevalência aumente com o envelhecimento e seja mais comum em mulheres, especialistas alertam para a incidência em esportistas jovens.

 

Modalidades como futebol, vôlei, basquete, corrida de longa distância, lutas e até crossfit estão entre as que mais expõem ao risco, pela sobrecarga repetitiva sobre quadris e joelhos. Reconhecer os sinais iniciais é fundamental. Segundo a médica esportiva Karina Hatano, os principais sintomas são dores mecânicas que se manifestam durante a atividade física ou ao final do dia, rigidez curta pela manhã e dificuldade em realizar movimentos simples, como calçar sapatos ou cortar as unhas dos pés.

Além da prática esportiva sem orientação, fatores como obesidade, desequilíbrios musculares, histórico familiar de artrose e até predisposição genética aumentam a chance de desenvolver osteoartrite. Com o envelhecimento populacional e a obesidade em crescimento, especialistas projetam que os casos de OA em quadril terão aumento de quase 80% até 2050.

Fortalecer a musculatura é considerado essencial para proteger as articulações. Alongamentos, acompanhamento ortopédico, calçados adequados e ajustes de carga no treino também fazem diferença. "Ao fazer um programa de exercício bem combinado, no qual temos ativação neuromuscular, força e mobilidade, é possível alcançar uma melhora no quadril e, consequentemente, esse benefício irá proporcionar a prevenção e o tratamento da doença", complementa Karina.

A osteoartrite não tem cura definitiva, mas o diagnóstico precoce e o tratamento adequado permitem controlar sintomas, manter qualidade de vida e preservar a mobilidade.

Tratamento

O tratamento é definido de acordo com o grau da doença: Em fases leves a moderadas, podem ser indicados medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios, fisioterapia, condroprotetores e viscossuplementação — aplicação intra-articular que reduz a dor e melhora a mobilidade por meses. Nos casos mais graves, quando há perda avançada da cartilagem, a cirurgia para implante de prótese de quadril ou joelho pode ser necessária.

Quem é mais afetado?

  • Mulheres acima dos 60 anos

  • Atletas jovens em esportes de alto impacto

  • Pessoas com histórico familiar

Fatores de risco

  • Obesidade
  • Desequilíbrios musculares
  • Predisposição genética
  • Treino sem orientação

Sintomas

  • Dores nas articulações
  • Rigidez ao realizar movimentos
  • Inchaço
  • Estalos ou ruídos ao se movimentar
  • Sensação de fraqueza
  • Perda de amplitude no movimento
  • Deformidade óssea (em casos avançados)

Diagnóstico 

  • Histórico médico e sintomas
  • Exame físico
  • Exames de imagem e laboratoriais

Locais mais afetados

  • Joelhos — Responsáveis por quase 80% da carga global da OA
  • Quadris — Cresce  entre obesos e mulheres jovens
  • Mãos — mais comuns em mulheres acima de 50 anos 
  • Pés e tornozelos — Também podem ser atingidos

Em atletas

De acordo com PubMed, estudos com ex-atletas masculinos de elite revelam que lesões articulares durante a carreira esportiva elevam drasticamente o risco de osteoartrite no futuro. Por exemplo, ex-atletas olímpicos apresentaram 11,1% e 14,2% de prevalência de OA no quadril e no joelho, respectivamente; lesões aumentaram em até 10 vezes o risco. Outro estudo identificou que atletas profissionais têm até o dobro de chance de precisar de prótese de quadril ou joelho por OA.

Ex-atletas com OA

  • Everton Felipe (ex-jogador de futebol do Sport e São Paulo) — Encerrou sua carreira aos 26 anos
  • Priscila Varela (ex-jogadora de basquete) — Aos 37 anos teve o diagnóstico, porém a atleta continuou jogando por mais três anos.

Números que impressionam 

  • 595 milhões de pessoas vivem com osteoartrite no mundo (7,6%)
  • 132% de crescimento de casos desde 1990
  • No Brasil, 12 milhões de casos confirmados

Palavra do especialista 

Quais esportes aumentam o risco de osteoartrite em jovens?

Os esportes de impacto, como futebol, vôlei, basquete, lutas, crossfit e corrida de longa distância, estão entre os que mais contribuem para o desenvolvimento precoce da osteoartrite. Isso acontece porque eles geram uma sobrecarga repetitiva nas articulações, especialmente nos quadris e joelhos. O que vemos hoje é um número cada vez maior de mulheres jovens entrando em corridas ou caminhadas sem a preparação adequada, o que acelera o desgaste da cartilagem.

Como proteger o quadril durante a prática esportiva?

A chave é o fortalecimento da musculatura. Quando os músculos estão fortalecidos, eles absorvem boa parte do impacto, que, de outra forma, iria diretamente para a articulação. Além disso, é essencial adotar calçados adequados, respeitar os limites do corpo, realizar alongamentos e, sempre que possível, treinar com orientação profissional. O erro comum é acreditar que basta começar a correr para já ter benefícios. Na verdade, sem preparo, o risco de desenvolver uma doença como a osteoartrite é muito maior.

O fator genético realmente influencia no surgimento da osteoartrite?

Sim, influencia bastante. Pessoas com histórico familiar de artrose ou que têm parentes que precisaram de prótese de quadril ou de joelho apresentam maior predisposição. Isso não significa que a osteoartrite seja inevitável nesses casos, mas mostra a importância de uma avaliação ortopédica precoce. Se detectarmos sinais iniciais, conseguimos agir rapidamente com medidas preventivas — como fisioterapia, ajustes no treino e viscossuplementação em fases iniciais — para adiar ou até evitar a progressão da doença.” 

Leandro Calil é ortopedista e traumatologista especialista em tratamento preventivo e reabitação em joelho, quadril e medicina esportiva.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte / Correio Braziliense

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