Presidente norte-americano afirmou que a FDA vai notificar os médicos sobre suposto risco de TEA ligado ao uso do medicamento por mulheres grávidas
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou que a FDA (Food and Drug Administration), vai notificar médicos sobre um suposto risco aumentado de autismo em crianças associado ao uso de paracetamol durante a gravidez. Ele fez o anúncio nesta segunda-feira (22/9) durante coletiva de imprensa na Casa Branca, em Washington.
Segundo Trump, autoridades de saúde americanas recomendarão que gestantes evitem o uso de paracetamol, exceto quando "estritamente necessário". Ele expressou sua opinião sobre o medicamento de forma direta. "Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom".
A fabricante do Tylenol, a Kenvue, contestou essas afirmações, afirmando que "não há base científica" para associar o paracetamol ao autismo.
O que a ciência diz sobre a relação entre o autismo e o uso de paracetamol?
Em sua declaração, o presidente norte-americano mencionou uma revisão publicada na revista "Environmental Health" em agosto que analisou 46 estudos sobre o uso de paracetamol na gravidez e possíveis efeitos no desenvolvimento neurológico infantil.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores de Harvard e encontrou indícios da associação do medicamento com maior risco de TDAH ou autismo em parte das pesquisas, mas outras não confirmaram essa relação.
Embora os pesquisadores tenham concluído que há sinais consistentes em parte das evidências, foi apontado que não há prova de causalidade e que o paracetamol continua sendo o analgésico mais indicado na gestação, desde que usado na menor dose possível e com orientação médica.
Um estudo sueco utilizou dados de quase 2,5 milhões de crianças nascidas na Suécia entre 1995 e 2019, avaliando informações sobre prescrições de paracetamol durante a gravidez e sobre o uso autorrelatado, coletadas por parteiras, e analisou se as crianças haviam recebido diagnósticos de autismo posteriormente.
O levantamento mostrou que cerca de 1,42% das crianças expostas ao paracetamol durante a gravidez eram autistas em comparação com 1,33% das crianças que não foram expostas. Uma diferença muito pequena.
Além disso, a equipe de cientistas também comparou pares de irmãos, nascidos da mesma mãe, em que um deles havia sido exposto ao paracetamol e outro não. Nesse caso, eles compartilhavam metade do genoma, a criação e histórico da mãe, o que indicaria que qualquer diferença detectada no autismo teria maior probabilidade de estar relacionada ao medicamento. Mas não foi encontrada nenhuma associação entre o paracetamol e o TEA a partir deste método.
Outro estudo feito no Japão, incluindo mais de 200 mil crianças, também utilizando comparações entre irmãos e publicado neste ano, não encontrou nenhuma ligação entre o uso de paracetamol na gravidez e o autismo.
O que é autismo?
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, o transtorno do espectro autista (TEA), se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento social, na comunicação e na linguagem, e por uma gama estreita de interesses e atividades e que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva.
O que causa autismo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde, evidências científicas sugerem que diversos fatores, tanto genéticos, quanto ambientais, contribuem para o surgimento do autismo.
Estudos demonstram que há maior probabilidade de autismo em famílias com um membro autista, especialmente em gêmeos idênticos. A exposição a certos fatores ambientais também parecem ocorrer com mais frequência em crianças com autismo ou em seus pais. De acordo com a OMS, entre esses fatores estão a idade parental avançada, diabetes materno durante a gravidez, exposição pré-natal a poluentes atmosféricos ou a certos metais pesados, prematuridades, complicações graves no parto e baixo peso ao nascer.
Por que há mais casos de autismo atualmente?
A prevalência de autismo, anteriormente estimada em 1 para cada 150 crianças no início do século, atualmente é de aproximadamente 1 em cada 31. Especialistas atribuem esse aumento principalmente à ampliação do conceito e às mudanças nos critérios diagnósticos. Até os anos 1990, apenas os quadros mais severos eram incluídos no diagnóstico. A partir dos anos 2000, casos mais leves passaram a ser identificados.
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