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Uma a cada três mulheres travestis e transexuais está infectada com o vírus do HIV, diz estudo

Publicada em: 20/08/2024 06:26 - Notícias

 

 

Enquanto 34% das mulheres trans têm o vírus, apenas 0,4% da população geral de mulheres está infectada; alta prevalência do HIV na população trans é causada por vulnerabilidade social

 

Um estudo publicado na ‘Revista Brasileira de Epidemiologia’, nesta segunda-feira (19), revela que, em cinco capitais brasileiras, uma em cada três mulheres transexuais estão infectadas como vírus do HIV. Porto Alegre lidera a lista, com 56% da população trans infectada.

Os pesquisadores entrevistaram 1.317 mulheres travestis e transexuais nas cidades de Campo Grande (MS), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Salvador (BAe São Paulo (SP). Para avaliar se elas estavam ou não infectadas, os cientistas realizaram testes rápidos de HIV naquelas que consentiram (97% das entrevistadas).

A epidemiologista Inês Dourado, principal autora do estudo, explica à Itatiaia que o preconceito e discriminação são os principais responsáveis por fazer com que essa população esteja mais vulnerável ao HIV.

“Existe uma série de questões que podem explicar porque a alta prevalência do HIV é desproporcionalmente maior na população de travestis e mulheres transexuais. Vai desde a vulnerabilidade estrutural, que inclui as más condições socioeconômicas, ao difícil acesso a serviços de prevenção e cuidados para o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis”, afirma Inês Dourado.
 

Nas cinco cidades, 34% (ou um terçodas mulheres travestis e transexuais possuem o vírus do HIV, que causa a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). O número é muito superior à prevalência do HIV na população geral de mulheres no Brasil. Em 2015, apenas 0,4% delas tinham sido registradas com o vírus do HIV.

O município com a maior taxa de prevalência do HIV foi Porto Alegre, com 56% da população estudada infectada; Manaus aparece em segundo lugar (37%), seguida por Salvador (31%), Campo Grande (27%e São Paulo (26%).

O levantamento foi liderado pelo Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos e Saúde da População LGBT+, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e contou com a participação de cientista da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade do Estado da Bahia (Unebe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As informações foram compiladas pela Agência Bori.

Uma a cada quatro travestis e transsexuais precisam recorrer à prostituição para sobreviver

Entre as entrevistadas, a maior parte se definiu como mulher ou mulher transexual (66,6%), heterossexual (79,2%e com até 30 anos (50,9%). A maior parte das mulheres também disseram exercer trabalho informal (78%), principalmente o trabalho sexual (74%).

“A identidade de gênero representa uma barreira para garantir emprego e, em muitos contextos, para garantir a moradia dessas mulheres. Essa é uma população que sofre muita discriminação na sociedade, pela família, pelos amigos, e por parte dos profissionais de saúde. A falta de cuidados mais qualificados e essas vulnerabilidades estão associadas a comportamentos e práticas sexuais que levam ao maior risco do HIV”, comenta Dourado.

Combate a infecção pelo HIV entre população estudada não é suficiente, diz pesquisadora

A autora destaca a importância da realização de estudos sobre a população travesti e transexual para a elaboração de políticas públicas de diversidade.

“A importância desse artigo é evidenciar essa questão da infecção pelo HIV nesse grupo de travestis e mulheres trans, no sentido de mobilizar uma resposta do poder público. Esses estudos são essenciais para mostrar o perfil e o contexto do HIV nessa população. Nos últimos anos, o país passou por um conservadorismo muito grande e essas políticas que foram desenvolvidas há anos estão sendo menos colocadas em práticas. Ou seja, elas existem, mas não estão sendo suficientes. Elas precisam ser em número maior e precisam ser efetivamente realizadas nos diversos municípios do país”, afirma.

Uma das políticas públicas de combate a infecção pelo HIV está a distribuição de PrEP pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A profilaxia pré-exposição ao HIV consiste na tomada de medicamentos antirretrovirais de forma preventiva, com a finalidade de permitir ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o vírus.

A cientista acredita que a distribuição gratuita dos medicamentos possa contribuir para uma redução do número de mulheres travestis e transexuais com HIV no futuro. “Há uma expectativa, inclusive modelos matemáticos mostrando que o acesso a essas profilaxias diminui bastante as infecções pelo HIV. Já existem dados de outros lugares do mundo, como Inglaterra, Canadá e Austrália, mostrando a imensa contribuição do uso e do acesso ao PrEP, e a redução no número de infecções”, explica.

 

fonte: itatiaia

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