As altas temperaturas, aliadas ao longo período sem chuvas e aos ventos fortes de agosto, têm contribuído para uma maior incidência de incêndios nas áreas rurais de Minas Gerais e prejudicado a produção agrícola e pecuária. Um dos incêndios foi registrado em Passos, na região Sul do Estado. No município, entre as culturas atingidas, estão o milho segunda safra, a cana-de-açúcar e a pecuária de leite.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Passos, Elder Maia dos Reis, entre os dias 23 e 25 de agosto foram registrados dois grandes incêndios em áreas produtivas do município. Ao todo, foram queimados 3 mil hectares e 20 produtores atingidos.
“Os incêndios atingiram duas áreas. No dia 23 pela manhã, o fogo começou na estrada da Julieira, na região da Boa Vista, e, no início da tarde, na região das Águas. A propagação foi muito rápida devido aos fortes ventos. Tivemos muita dificuldade de conter as chamas que duraram até domingo”.
Ainda conforme Reis, os dois incêndios atingiram áreas de pastagem e currais, produção de cana-de-açúcar para fabricação de cachaça, uma área onde houve plantio recente de cana para açúcar e etanol, além de uma lavoura de milho segunda safra, que estava pronta para colheita.
“Foram 20 produtores prejudicados, sendo a maioria de médio porte. Das fazendas atingidas, três queimaram por inteiro com perda total de pastagem e curral. Outras três, de grande porte, tiveram cerca de metade da área queimada. Em algumas áreas, foi necessário retirar os animais e foram remanejadas cerca de 2 mil cabeças de gado de leite”.
Incêndios causam prejuízos
Em Passos, as perdas foram muitas e irão impactar os rendimentos dos produtores rurais. “Nas áreas de pastagens, os pecuaristas de leite terão que investir na recuperação do solo e reconstruir novamente os currais. A situação dos produtores fica complicada, já que a produção de leite vem enfrentando desafios”.
Na cana para açúcar e etanol, o fogo atingiu uma área de plantio novo e o impacto será no desenvolvimento, que pode atrasar. Um dos produtores atingidos perdeu a lavoura de cana para a fabricação de cachaça, que era produzida conforme a demanda. Outro perdeu toda a lavoura de milho, que estava em colheita.
Conforme o presidente do sindicaro, os incêndios na região têm sido favorecidos pelo tempo seco, falta de chuvas e ventos fortes, que ajudam a propagar os focos. Com o incidente, produtores da região estão se unindo para adotar medidas que contribuam para reduzir os riscos de incêndios e também para combatê-los com maior eficiência quando acontecer.
“Estamos em contato com vários órgãos públicos e, na semana que vem, vamos fazer reunião com o objetivo de criar uma patrulha, uma brigada para ter uma resposta mais rápida. Também vamos capacitar os funcionários, criar uma cartilha de prevenção aos incendios”, confirmou.
Cultura da cana-de-açúcar é uma das mais prejudicadas
Os incêndios registrados no Estado têm atingido as áreas de cana-de-açúcar, cuja safra é iniciada em abril e concluída em novembro, permanecendo, assim, em campo durante o período mais seco do ano.
Conforme a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), o setor segue com “uma profunda preocupação com a situação”. A entidade reitera que as ocorrências têm sido agravadas pela seca severa e condições climáticas desfavoráveis.
“É importante citar que tanto usinas quanto produtores rurais são vítimas desses incêndios que têm ocorrido no interior, principalmente no Triângulo Mineiro. De fato, a cultura da cana-de-açúcar, por ser uma cultura que fica durante todo esse período mais seco no campo, é uma das mais impactadas”, explicou o presidente da Siamig Bionergia, Mário Campos.
Ainda segundo ele, o setor tem trabalhado em práticas de prevenção e preparando, na eventualidade de ter algum tipo de caso, todo o aparato importante para combate ao fogo.
“Temos toda uma estrutura. Hoje, são quase 500 caminhões-pipas e equipamentos para apagar o fogo. Além disso, preparamos nossos colaboradores com treinamentos para que eles possam agir de duas formas, seja no próprio combate, seja para agir na evacuação da área e das comunidades, caso elas sejam atingidas”.
Impactos negativos
Campos ressalta que o setor de cana foi afetado pelos incêndios em Minas, mas que a situação é menos grave que a vista em São Paulo. “O setor foi afetado, mas não igual a São Paulo. A gente está vendo que São Paulo teve uma situação muito mais crítica. Ainda não temos um levantamento, mas isso vai impactar de alguma forma a produção de cana que ainda estava para ser colhida”.
Conforme Campos, cerca de 35% da área de cana ainda não havia sido colhida, sendo uma parcela afetada pelo fogo. “ A gente precisa fazer rapidamente a colheita dessa cana-de-açúcar, que nem estava pronta para a colheita. Mas, infelizmente, temos que antecipar e nesse processamento poderemos ter algum tipo de dificuldade, principalmente para fazer açúcar. É uma cana queimada e as usinas, hoje, não estão preparadas para receber essa cana queimada”.
A estimativa é que haja impacto negativo na produção da safra atual assim como na safra do ano que vem, em função da seca que persiste há muitos meses na região. Segundo a Siamig, algumas áreas produtivas estão sem chuvas há 120, 150 dias.
“O clima seco, os fortes ventos, a baixa umidade, junto com as altas temperaturas, propiciaram os incêndios. Infelizmente, nós ainda convivemos com pessoas que provocam esses focos seja de forma proposital, seja de forma acidental. É por isso que fazemos grandes campanhas de conscientização. Estávamos indo bem até a semana passada, mas, infelizmente, todo esse contexto fez com que nós tivéssemos vários casos na região do Triângulo”, lamentou.
fonte: diario do comercio