Valorização da moeda norte-americana e tarifas de importação devem pautar a relação economica entre os dois países
Entender os rumos da economia brasileira passa por compreender o cenário global em 2025. E um dos fatos mais relevantes, com impacto direto nessa análise, ocorre no dia 20 de janeiro, com a posse de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos.
A volta do controverso político ao poder, após fracassar em sua tentativa de reeleição, também marca o retorno de preocupações de outros países quanto à política econômica que será adotada pela nação mais poderosa do mundo.
Analistas consultados pela Itatiaia indicam que Trump provavelmente continuará adotando uma postura protecionista, alinhada às promessas de sua campanha e às políticas implementadas durante seu primeiro mandato. No entanto, a tendência é que a elevação das taxas sobre produtos importados se intensifique a partir de 2025, impactando diretamente as relações comerciais com o Brasil.
Protecionismo e o impacto no Brasil
Celso Figueiredo, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que a adoção de medidas protecionistas por Trump tem como foco a China, que disputa espaço com os Estados Unidos no protagonismo mundial.
No entanto, a ideia de elevar a carga de impostos sobre os produtos que chegam aos EUA também pode refletir nas relações com o Brasil.
Welber Barral, sócio da BMJ Consultoria, reforça que as exportações brasileiras de aço, alumínio e cobre estão particularmente vulneráveis. Para ele, o cenário é desfavorável para negociações de novos acordos comerciais entre os dois países. “Não vejo espaço para acordos comerciais no curto prazo com o governo Trump”, afirmou Barral.
Tensão Comercial EUA-China e oportunidades para o Brasil
A escalada da tensão comercial entre Estados Unidos e China, considerada inevitável por Figueiredo, cria um ambiente global mais complexo. Embora essa rivalidade possa oferecer oportunidades pontuais para o Brasil, como o aumento de exportações de commodities, o isolamento entre as duas maiores economias do mundo pode desacelerar o ritmo do comércio global.
“Esse movimento de isolamento entre as potências gera riscos conjunturais que podem arrefecer a economia global”, explica o professor.
Barral complementa que, enquanto o Brasil está consolidado como fornecedor de commodities para a China, nos Estados Unidos ele enfrenta concorrência direta em produtos como soja, milho e etanol. “Nós somos grandes concorrentes em terceiros mercados”, avalia.
Além disso, os subsídios concedidos aos agricultores norte-americanos, comuns em governos republicanos, podem reduzir o preço internacional de commodities como algodão, afetando negativamente o Brasil.
“O Brasil não concorre tanto nesses produtos no mercado americano, mas pode sofrer efeitos em terceiros mercados”, analisou Barral.
Banco Central e o Cenário Monetário
Outro aspecto relevante é o impacto das políticas monetárias nos Estados Unidos. Com uma economia aquecida, baixa taxa de desemprego e inflação em níveis históricos, o Federal Reserve deve manter os juros elevados, valorizando o dólar.
Isso pode dificultar as exportações norte-americanas, mas também limita a desvalorização da moeda. Segundo Figueiredo, Trump enfrentará o dilema de equilibrar a retórica de fortalecimento do dólar com os desafios de competitividade internacional.
“Se ele tiver um dólar muito forte, terá dificuldade em vender produtos norte-americanos para outros países porque serão produtos caros. Por outro lado, a moeda desvalorizada ajuda na exportação, mas contraria o discurso de fortalecer os Estados Unidos e torná-los grandes novamente”, avalia o professor.
Itatiaia