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Com aumento da taxa Selic e dos níveis de inadimplência, cai o volume de financiamentos de veículos em MG

Publicada em: 14/05/2025 06:02 - Notícias

Minas Gerais registrou uma queda de 10% no número de financiamentos de veículos em abril de 2025, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Segundo dados da B3, responsável pelo Sistema Nacional de Gravames (SNG), o Estado contabilizou 50,2 mil veículos financiados no mês — entre novos e usados. O principal motivo, segundo especialistas, é a alta dos juros.

A desaceleração é puxada principalmente pelo segmento de autos leves, que teve queda de 10,9% em relação a abril de 2024. O financiamento de motos recuou 3,5% na mesma base de comparação, enquanto veículos pesados apresentaram queda de 8,7%.

“A retração é consistente com uma tendência nacional. Ao avaliar o mercado de forma ampla, observamos que, em abril, houve uma queda de 7,2% em relação ao ano anterior, com os estados mais significativos, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, registrando diminuições na volumetria de financiamentos”, explica o superintendente de produtos de financiamento na B3, Daniel Godoy Takatohi.

Aumento da Selic afeta financiamento de veículos 

O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Fundação Ipead), Paulo Casaca, aponta que o cenário é influenciado sobretudo pelas condições macroeconômicas. 

“O principal motivo da queda do financiamento de veículos, sem dúvida nenhuma, é o aumento da taxa básica de juros, da Selic. Quando a Selic aumenta, a taxa de juros final pro crédito veicular também vai subir, e, obviamente, isso faz com que o financiamento fique muito caro pras pessoas”, ressalta.

Além da alta nos juros, o aumento da inadimplência também afeta diretamente a demanda por crédito. De acordo com o economista do Ipead, uma coisa está diretamente relacionada à outra. 

“Como decorrência também do aumento da taxa de juros, os dados de inadimplência no País todo também têm subido. Se o custo do financiamento está mais alto por conta do aumento dos juros, o consumidor avalia que não vai ser a hora, por exemplo, de trocar o seu veículo e vai tomar uma atitude de forma mais conservadora”, completa Casaca.

Alta em abril não indica aquecimento no setor

Apesar da queda no comparativo anual, abril de 2025 registrou alta em relação ao mês de março. No entanto, a variação positiva de 4,1% entre março e abril, por sua vez, é vista com cautela pelos especialistas.  

“O aumento registrado em abril, quando comparado a março, pode ser atribuído à variação no número de dias úteis – 20 dias em abril, em comparação a 19 em março”, explica Takatohi. 

Paulo Casaca reforça essa avaliação e destaca que esse aumento não significa, necessariamente, uma retomada nos financiamentos de veículos, e que pode ser simplesmente um efeito sazonal. 

“A gente teve menos dias em março e, em geral, meses que têm menos dias úteis acaba tendo um resultado pior. Esse resultado de crescimento de 4,1% de abril em relação a março não pode ser utilizado para confirmar que houve uma melhora no curto prazo”.

O superintendente da B3 ressalta, ainda, que, na comparação por dias úteis, abril teve uma queda em relação a março. “Ao analisar a média de financiamentos por dia útil, observamos uma redução de 1,1% em relação a março, indicando que o desempenho do mês não foi satisfatório e sinalizando um possível desaquecimento do mercado”.

Contudo, mesmo diante da retração, o Estado segue com peso relevante no mercado nacional. “Minas se destaca como o segundo maior em volume de financiamentos no Brasil, apresentando estabilidade, sem oscilações significativas”, afirma Takatohi.

Cenário altera perfil de consumo

 

O cenário de alta dos juros também altera o perfil de consumo. Segundo Casaca, a inflação, especialmente a de alimentos, tem impacto direto nas decisões de compra das famílias mineiras. 

“Alimentos é um grupo de despesa muito importante para a população brasileira. Quando as pessoas acabam tendo que gastar mais com alimentos, elas acabam tendo que abrir mão de outros gastos, como, por exemplo, troca de veículos”.

Apesar da queda mais modesta no segmento de motocicletas, os dados sugerem uma mudança de comportamento no perfil dos motoristas. 

“Notamos um aumento na participação das motocicletas nos financiamentos, com a categoria passando de 24% de participação, em janeiro, para 27% em abril. Esse crescimento em Minas Gerais foi superior ao observado no mercado como um todo”, observa Takatohi.

A preferência crescente por motos pode estar ligada a novos padrões de mobilidade urbana. “Com a facilidade de utilização de transporte por aplicativo, muita gente abre mão de ter um veículo próprio. Mas é uma mudança mais visível no longo prazo do que em 12 meses”, avalia Casaca.

 

Diario do comercio

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