Casa Branca promete usar todo o poder contra os cartéis de narcotráfico, e presidente Nicolás Maduro mobiliza 4 milhões de milicianos para fazer frente à ameaça representada pelo envio de três destróieres americanos para a costa venezuelana
O envio de três destróieres norte-americanos com 4 mil marines (fuzileiros navais) para as águas do Caribe, perto da costa da Venezuela, e a mobilização de 4 milhões de milicianos pelo regime de Nicolás Maduro elevaram a tensão na América Latina a um novo patamar. A previsão é de que as embarcações militares dos Estados Unidos se aproximem do litoral venezuelano nesta quinta-feira (21/8). O presidente da Venezuela anunciou que as milícias estão "preparadas, ativadas e armadas". "Vamos seguir avançando no plano de ativação das milícias camponesas e operárias, com corpos de combatentes operários em todas as fábricas e locais de trabalho do país. (...) Fuzis e mísseis para a força camponesa! Para defender o território, a soberania e a paz da Venezuela. Mísseis e fuzis para a classe trabalhadora, para defender nossa pátria", acrescentou. Composta por cerca de 5 milhões de reservistas, a Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela é um ramo das Forças Armadas criado pelo ex-presidente Hugo Chávez em 2005.
Segundo o jornal El Universal, de Caracas, o líder venezuelano também fez um chamado às Forças Armadas da Colômbia para uma aliança em caso de ataque dos EUA. "Fomos um só exército e, por isso, conquistamos a independência e a liberdade. (...) Nenhum império voltará a tocar a terra sagrada de (Simón) Bolívar. É humilhação suficiente que haja bases nesses territórios", declarou Maduro.
Horas depois do discurso de Maduro, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, avisou: "O presidente (Donald) Trump tem sido muito claro e consequente: está disposto a usar todo o poder para deter a entrada de drogas no nosso país". E complementou: "Maduro não é um presidente legítimo". O governo Trump não reconhece Maduro como chefe de Estado e o acusa de colaborar com o tráfico de drogas. "Ele é um dos maiores narcotraficantes do mundo e uma ameaça à nossa segurança nacional", acusou a procuradora-geral Pam Bondi. Os Estados Unidos também aumentaram a recompensa pela captura de Maduro de US$ 25 milhões (cerca de R$ 137,5 milhões) para US$ 50 milhões (R$ 275 milhões). Washington acusa o venezuelano de ser chefe do Cartel de Soles, que considera ser uma organização terrorista. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, fez coro "contra o intervencionismo" e criticou a presença de forças militares dos EUA no Mar do Caribe.
Debandada
Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (em Caracas), desqualificou o que Maduro chamou de "milicianos". "Eles não podem ser considerados uma força militar séria. São civis que receberam certo treinamento, mas não creio que sejam capazes de manejar armas em um conflito sério, nem estariam dispostos a imolar-se por Maduro em uma situação tão crítica como a que a Venezuela atravessa", explicou ao Correio. Ele acredita que, em uma situação de combate, esses milicianos partiriam em debandada.
Aumaitre não descarta uma reedição do que ocorreu na Líbia em 2011. "Não estranhe se estiver sendo criada uma situação similar à da Líbia, quando o exército de Muamar Khadafi foi dizimado por ataques cirúrgicos das potências, incluindo Itália e França. Ante o poderio militar, Khadafi viu-se forçado a abandonar o palácio e foi executado pela população", afirmou. "Maduro está em situação parecida. É uma pessoa disposta a ficar no poder a todo custo. Sabe que, se deixar o cargo, será preso. Prefere converter a Venezuela em seu cárcere, ao estilo de Pablo Escobar na Colômbia", acrescentou, ao citar o chefe do narcotráfico.
Cientista político e presidente do Observatório da Venezuela da Faculdade de Estudos Internacionais, Políticos e Urbanos da Universidad del Rosario (Colômbia), Ronal Rodríguez disse não acreditar que a solução para a crise no país de Maduro envolva a força, mas admite que as milícias venezuelanas têm uma certa permeabilidade em relação à guerrilha Exército de Libertação Nacional. "O grupo colombiano poderia se unir às milícias para defender a revolução bolivariana. Há uma complexa equação, onde existem múltiplos fatores que alteram o resultado. A resposta dos Estados Unidos à mobilização de milicianos faz com que não seja desejável uma ação militar", avaliou ao Correio.
Para Rodríguez, os Estados Unidos atuarão de forma racional e não emocional. "Isso tem muito peso dentro do que é a nova política externa americana, que impõe problemas aos seus aliados cada vez que Trump decide operar em uma direção ou outra", observou. Ele lembrou que o presidente dos EUA tem o afã de obter resultados para ampliar a própria popularidade e, por isso, crê que ele priorizaria a via diplomática.
Correio Brazilienze