Juros altos, frete defasado, falta de motoristas e estradas ruins colocam o setor de cargas em xeque em Minas Gerais
Alerta é do Setcemg, que aponta que algumas empresas já operam no vermelho no Estado; baixa remuneração do frete e patamar elevado da Selic estão entre principais entraves do setor
Pressionadas pelo aumento generalizado dos custos, principalmente pelo patamar elevado da taxa básica de juros (Selic), a baixa remuneração do frete e outros fatores, as transportadoras mineiras podem caminhar para o colapso financeiro no futuro, alerta o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg).
O temor da entidade é que as empresas não consigam sobreviver frente à contração de suas margens de lucro e alguns negócios já operam no vermelho, disse o presidente do Setcemg, Antonio Luis da Silva Junior. “Estamos com dificuldade de mão de obra, dificuldade de repassar juros altos, uma justiça trabalhista complexa e insegura. Estamos caminhando por um caminho que pode ser irreversível, por isso o alerta”.
O déficit de mão de obra especializada, aponta o sindicato, é especialmente para as vagas de motoristas. Com escassez de trabalhadores e alta rotatividade, há um envelhecimento da força de trabalho para dirigir os caminhões e as transportadoras enfrentam dificuldades em ofertar salários competitivos com outros segmentos.
Além disso, a infraestrutura rodoviária precária de Minas Gerais derruba a produtividade das transportadoras. As más condições das estradas aumentam os tempos de viagem dos caminhões, bem como elevam os gastos com combustível e manutenção da frota de caminhões. Frota esta, inclusive, formada por veículos antigos, atrasados tecnologicamente, o que, destaca o Setcemg, gera ineficiência do ponto vista energético e ambiental.
Há também uma regulamentação complexa, uma carga tributária elevada e uma falta de segurança que desafiam as empresas de Minas Gerais. Os roubos e furtos de cargas – e até de componentes dos veículos – geram prejuízos às transportadoras e aos embarcadores, inflacionam os custos com seguros e força as empresas a tomarem medidas adicionais para que as mercadorias cheguem ao seu destino, o que eleva os custos.
Nessa situação, as grandes transportadoras de Minas Gerais conseguem lidar melhor que as pequenas, afirma Silva Junior. Mais estruturadas financeiramente, as grandes têm condições de recusar fretes com valores muito baixos e escapar do chamado “frete predatório”, quando o valor pago pelo frete é abaixo dos custos operacionais, mas o transportador apenas consegue identificar o problema após realizar o serviço, ou seja, absorvendo o prejuízo.
Com as pequenas empresas do setor acontece o inverso, já que, se ficarem sem faturamento, as transportadoras menores paralisam as atividades. “E aí, no afã de segurar, continuam aceitando o preço abaixo do custo e estão cavando um buraco”, destaca o presidente do Setcemg. “O setor abdicou do direito de dar preço e está deixando o cliente ofertar o preço, sem saber os custos e os riscos”, completa.
A saída para as transportadoras, principalmente as pequenas, aponta Silva Junior, seria a união das empresas em prol de recusar fretes com valores muito baixos, para conseguir reajustar a remuneração média do frete para cima, em uma condição mais condizente com a realidade da operação. “Se o diesel chegar a R$ 50/L, o que tem que fazer? Absorver? Não. Vai ter que repassar para o consumidor, ter coragem de repassar os custos. Essa é a filosofia”, argumenta.
Diario do comercio