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Bet da Caixa? Banco vai lançar casa de aposta online; Idec e oposição reprovam

Publicada em: 25/10/2025 06:51 -

Instituição confirma plano e projeta arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões por ano

 

Caixa Econômica Federal vai criar sua própria plataforma de apostas on-line, uma bet. O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira, confirmou em entrevista esta semana ao Money Times que o banco estatal lançará ainda em novembro deste ano sua própria casa de apostas. Ele disse que a instituição projeta arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões no ano que vem com a “bet da Caixa”. 

 

A possibilidade da Caixa entrar nesse mercado foi criticada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Para a entidade, a medida "deveria causar mais do que estranhamento, deveria causar repúpio". A instituição, que há mais de 160 anos simboliza a presença social do Estado brasileiro, agora se coloca no mesmo mercado de empresas que lucram com o vício, a ilusão e o endividamento. É uma contradição profunda: um banco público de fomento social convertendo-se em operador digital de jogos de azar", disse.

Procurada, a Caixa confirmou o plano, mas não deu mais detalhes. A reportagem aguarda resposta e mais informações sobre o tema.  

Ainda segundo nota do Idec, a Caixa não é um banco qualquer. "Ela é a guardiã do FGTS, a gestora do Bolsa Família, o agente financeiro da habitação popular e do Seguro-Desemprego, entre outros programas. Sua missão institucional é promover inclusão, cidadania e desenvolvimento. Ingressar em um setor tão mal regulado, socialmente danoso e pouco fiscalizado quanto o das apostas online é negar essa missão em nome da arrecadação e inverter o princípio de que um banco público existe para proteger o cidadão, não explorá-lo", disse nota de repúdio divulgada nesta sexta-feira.

 

Em pronunciamento no Plenário nesta quarta-feira (22/10), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) criticou a decisão da Caixa de lançar uma plataforma própria de apostas on-line. Para ela, a iniciativa desvirtua a função social desse banco público e representa um risco para as famílias brasileiras por estimular o vício em jogos de azar entre a população mais vulnerável.

"A decisão da Caixa representa talvez um dos maiores retrocessos morais e sociais da história recente do país. Trata-se de um movimento contraditório, perigoso e profundamente irresponsável, vindo justamente de uma instituição pública, que nasceu para promover o desenvolvimento social, a habitação popular e a inclusão financeira, e não para explorar o vício e a vulnerabilidade econômica da população mais pobre", afirmou a senadora na ocasião.

Segundo dados da consultoria internacional Regulus Partners, divulgados pela BBC News Brasil, empresas de apostas online devem faturar US$ 4,139 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) no Brasil em 2025, o que coloca o país como quinto maior mercado do mundo para o setor.

 

Confira a íntegra da nota de repúdio do Idec

"É inaceitável que a mesma plataforma que deveria estimular a poupança e o crédito responsável se transforme em isca para o endividamento e a ludopatia. Para o Idec, a decisão da Caixa Econômica Federal de lançar uma plataforma de apostas online deveria causar mais do que estranhamento, deveria causar repúdio. A instituição, que há mais de 160 anos simboliza a presença social do Estado brasileiro, agora se coloca no mesmo mercado de empresas que lucram com o vício, a ilusão e o endividamento.

É uma contradição profunda: um banco público de fomento social convertendo-se em operador digital de jogos de azar. A Caixa não é um banco qualquer. Ela é a guardiã do FGTS, a gestora do Bolsa Família, o agente financeiro da habitação popular e do Seguro-Desemprego, entre outros programas. Sua missão institucional é promover inclusão, cidadania e desenvolvimento. Ingressar em um setor tão mal regulado, socialmente danoso e pouco fiscalizado quanto o das apostas online é negar essa missão em nome da arrecadação e inverter o princípio de que um banco público existe para proteger o cidadão, não explorá-lo.

 

O impacto dessa decisão vai além da simbologia. Em todo o país, as casas lotéricas enfrentam dificuldades e risco de fechamento, justamente quando o governo decide priorizar plataformas digitais. Em muitos municípios, a lotérica é a única referência bancária disponível: ali se pagam contas, se recebem benefícios, se resolvem pendências que exigem presença física. Ali acolhem-se idosos, aposentados e pessoas sem letramento, em um espaço onde a confiança e a atividade financeira ainda acontecem cara a cara.

 

Ao esvaziar essa rede e substituí-la por um aplicativo de apostas, a Caixa abandona os consumidores mais vulneráveis, aqueles que dependem do atendimento humano e da estrutura territorial do banco. Enquanto isso, aposta no público conectado e no seu desejo de “ganhar fácil”. Mas o que a instituição apresenta como inovação tecnológica é, na verdade, um retrocesso ético.

 

Ao oferecer o jogo sob seu próprio nome e marca, a Caixa legitima o azar como produto estatal, emprestando-lhe o selo de credibilidade que o mercado privado jamais teria. O que era vício vira “entretenimento”, o que era risco financeiro vira “oportunidade”, ou até mesmo ”investimento”! Um banco público que incentiva o jogo é como um hospital que vende cigarro: contradiz sua própria razão de existir. É inaceitável que a mesma plataforma que deveria estimular a poupança e o crédito responsável se transforme em isca para o endividamento e a ludopatia.

 

A Caixa Econômica Federal precisa decidir quem quer ser: um instrumento de cidadania e desenvolvimento, ou um operador de apostas digitais a serviço do lucro fácil. Não há conciliação possível entre esses dois papéis. Como entender que a Caixa pretenda competir com instituições privadas de jogos de azar para aumentar receitas, deixando de ser um banco de fomento social, aliado da cidadania, para se converter em um operador digital de apostas guiado por metas de lucro e desconectado de sua base social?

 

O Idec defende uma regulamentação mais rigorosa e maior fiscalização dos jogos de azar, e não o apoio de um banco público para endividar ainda mais os consumidores. Em um país com tantas desigualdades e tão pouca confiança nas instituições, o dever de um banco público é reafirmar o valor do serviço social, não o do jogo. Apostar no azar pode render receita, mas apostar contra o próprio povo é perder a alma pública que sempre deu sentido à Caixa Econômica Federal."

 

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