Consultores "esgotavam" brindes para receberem cashback e comprar produtos mais caros; bando revendia produtos com mais de 50% de desconto
Doze pessoas estão sendo investigadas pela Polícia Civil de Minas Gerais por suposto esquema fraudulento na compra e revenda de cosméticos. Percebendo uma possível falha no site de compras das mercadorias, que resultaria em cashbacks para os compradores, o grupo, que estaria agindo desde o ano passado, pode ter gerado um prejuízo de cerca de R$ 6 milhões à empresa multinacional. Até agora, ninguém foi preso. As informações foram repassadas pela Polícia Civil em uma coletiva nesta segunda-feira (03/11).
"A denúncia aportou na divisão em março deste ano. De acordo com o setor antifraude, em parceria com o setor de inteligência da Polícia Civil, foram verificadas fraudes: um esquema envolvendo vulnerabilidades técnicas exploradas por consultores premium da empresa Natura. Eles (os suspeitos ) basicamente faziam compras no site e, explorando uma falha no sistema de cashback, aportavam uma quantia pequena em dinheiro e, em contrapartida, conseguiam um valor de cashback que lhes permitia entrar no site e realizar compras vultosas. A partir desse cashback, compravam produtos de alto valor da empresa e os vendiam em plataformas digitais e em lojas físicas por preços bem abaixo do mercado", detalhou a chefe da Divisão Especializada em Investigação de Crime Cibernético e Defesa do Consumidor, Cristiana Angelina.
Segundo a delegada, uma mulher de 51 anos é apontada como líder do esquema. Todos os alvos da operação Espelho de Vênus são de Belo Horizonte, Contagem e Betim, na Região Metropolitana da capital.
"Essa consultora líder, sabendo dessa vulnerabilidade, recrutava parentes, amigos, pessoas do seu círculo de confiança. Juntos, eles entravam no site ao mesmo tempo para realizar a compra, explorando a falha de forma coordenada. O prejuízo informado pela empresa tem como base a apuração dos valores de cashback. Com esse cashback fraudulento, foram adquiridos cerca de 50 mil produtos, itens de altíssimo valor da linha", acrescentou.
As investigações estão em andamento para apurar a efetiva participação de funcionários, já que o grupo percebeu que apenas a intenção de compra já gerava o cashback.
"Essa falha já foi corrigida pela empresa. Vários consultores que praticaram essa fraude foram bloqueados nos cadastros da empresa. A própria cabeça da organização foi bloqueada e passou a usar outros consultores para continuar as compras: recorreu à nora, ao filho, ao marido, amigos, vizinhos, parentes, para manter o esquema fraudulento", detalhou
Os produtos eram revendidos em sites de compras e em lojas físicas por um preço bem abaixo do praticado pela marca. "Cerca de 50%, 60% mais barato", comentou.
Além do esquema, a polícia também identificou que os produtos eram acondicionados em locais inapropriados, com presença de insetos e roedores.
Eles podem responder por associação criminosa, estelionato, lavagem de dinheiro, invasão de dispositivo eletrônico, crimes contra economia popular, apropriação indébita, entre outros.
A Natura foi procurada pela reportagem e informou que "segue colaborando com as autoridades e reitera seu compromisso inegociável com a ética, o respeito e a integridade em todas as suas relações".
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