Há alguns anos, as escolas brasileiras têm adotado dias temáticos, na Semana da Crianças, nos quais crianças vão fantasiadas para aula, trabalho ‘extra’ que tem gerado polêmica entre os pais
Uma semana antes da tão esperada ‘Semana das Crianças’, que neste ano acontece entre os dias 14 e 18 de outubro, as redes sociais e os passeios das escolas foram tomados por milhares de crianças com os mais diferentes e inusitados penteados. É que nos últimos anos, as instituições de educação têm adotado a ‘semana maluca’, em que pais e responsáveis devem mandar os filhos para aula fantasiados e com penteados diferentes todos os dias - ou em pelo menos um dia - que antecedem a ‘Semana das Crianças’.
Entre os responsáveis, há quem ame e quem odeia a proposta. Eles se dividem entre aqueles que acreditam na dinâmica como uma forma de ter um momento para exercitarem a criatividade com os filhos e aqueles que acreditam que é uma perda de tempo e recursos.
Contudo, com um cenário socioeconômico diverso e repleto de desigualdades como o brasileiro, à Itatiaia, a psicóloga e pedagoga Carolina Brasil Rehfeld aponta que nessas dinâmicas as escolas podem colocar os pais em situações delicadas, tanto pela falta de recursos, como pela falta de tempo para preparar as crianças para esses eventos.
Para ela, as ‘Semanas Malucas’, ao invés de servirem a um propósito pedagógico, podem servir com um estímulo ao consumo desenfreado e à competição. "[As dinâmicas] poderiam ou deveriam incentivar a criatividade, a criação, e a autenticidade das crianças. Mas, pelo olhar da competição e do consumo, essas atividades se tornam extremamente danosas às relações humanas, pois em um cenário onde poucos podem se destacar, o outro deixa de ser um aliado”, aponta.
Mãe do Francisco, de 3 anos, Clara Garcia Abreu, de 29 anos, não percebe as dinâmicas de forma negativa. Na visão dela, esse é um momento que deve ser tratado de forma leve e bem humorada para incentivar a autenticidade dos pequenos.
“Acredito que essas iniciativas podem ter um propósito pedagógico importante para as crianças, pois, além de promoverem momentos de diversão e descontração, elas estimulam a criatividade e a expressão pessoal, além de fortalecerem o vínculo entre família e escola, o que é fundamental”, comenta.
A coordenadora de marketing internacional pontua, que no caso dela, Francisco costuma se envolver bastante nessas atividades e que a família o incentiva a escolher a produção de cada dia. “Essas dinâmicas despertam sua imaginação e tornam o ambiente escolar mais dinâmico e atrativo inclusive para nós, pais”.
Envolvimento dos pais
Um dos aspectos apontados por Rehfeld que pode transformar os ‘Dias Malucos’ para os pais, filhos e escola em uma relação danosa é uma possível competição entre os responsáveis sobre “qual deles teria feito a melhor fantasia ou o melhor penteado”. Conforme a pedagoga, muitas vezes, pode ocorrer da atividade, que é proposta para criança ser protagonista, ser desempenhada pelos pais conforme as expectativas deles próprios.
“Quando a proposta é feita para as crianças e ela tira a criança do protagonismo, temos um grande problema. Primeiro, porque não faz sentido algum dar uma atividade para a criança executar, sem tomá-la como referência[...] E segundo, e mais relevante, é que, quando um adulto dá à criança uma atividade, ela se sente responsável por cumpri-la. Sendo assim, ela se cobrará não só de executá-la, mas também receber o reconhecimento do adulto que lhe passou a demanda. Quando percebe que precisou que alguém fizesse a atividade por ela, a criança sente-se incapaz e, inevitavelmente, sua autoestima é afetada.”, aponta.
Clara aponta que no convívio dela, ainda que possa existir algum tipo de competição entre os pais, o que ela percebe é um engajamento e uma preocupação dos pais para que a Semana das Crianças seja divertida para os filhos. “Nas duas escolas que meu filho frequenta e entre as mães com as quais convivo no trabalho, não percebi esse tipo de competição. O que notei foram produções criativas e pais realmente comprometidos em proporcionar uma semana divertida para os filhos”, afirma a mãe de Francisco.
‘Para Casa’ dos pais
Entre os pais que amam e aqueles que não são tão empolgados com dinâmica, um ponto em que todos concordam é que o ‘Dia do Cabelo Maluco’ e variantes trazem um trabalho extra para rotina com as crianças.
“Ser pai ou mãe nunca é fácil... Mas ver a alegria das crianças e como elas se sentem incluídas nas atividades é extremamente recompensador e faz tudo valer a pena. É cansativo. Temos a rotina de trabalho, casa, levar e buscar na escola... e, como se não bastasse, ainda o ‘dever de casa’ no terceiro turno. Mas, no geral, percebo que todos estão bem empenhados nessa grande brincadeira”, afirma Clara.
fonte: itatiaia