Desse total, 42% estão no varejo, segundo pesquisa GEM. Marcelo de Souza, do Sebrae, afirma que empreendedorismo se torna alternativa para que as pessoas continuem ativas no mercado de trabalho
A falta de vagas de trabalho no mercado formal tem levado pessoas mais velhas a abrir o próprio negócio. A conclusão consta da mais recente pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O estudo, que ouviu 2 mil pessoas entre 18 e 65 anos, no ano passado, aponta que 92% dos empreendedores entre 55 e 65 anos decidiram abrir o próprio negócio por acreditar que os empregos estavam escassos.
Dos empreendedores sêniores entrevistados na pesquisa, 57,3% têm ao menos um funcionário em suas empresas – sendo que 44,1% empregam de um a cinco funcionários, 9,3% têm de seis a 19 colaboradores, e 3,9% empregam 20 ou mais pessoas. Os outros 42,7% de empreendedores mais velhos não têm nenhum funcionário contratado. Em relação ao segmento de atuação, o varejo é líder, com 46% dos empreendedores operando em setores como materiais de construção, comércio de alimentos e bebidas, lojas de cosméticos, vestuários e acessórios. Os 54% restantes se dividem em diversos outros segmentos.
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae, Marcelo de Souza observa que o empreendedorismo se tornou uma alternativa atrativa para que muitas pessoas continuem ativas no mercado de trabalho, mesmo após a aposentadoria.
“Pequenos negócios liderados por pessoas mais velhas estão cada vez mais numerosos e contribuindo para a dinâmica econômica do país”, disse Souza. Para o Sebrae, a quantidade de pessoas entre 55 e 65 anos abrindo o próprio negócio continuará aumentando.
RENDA
O Sebrae também analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), e constatou que atualmente existem mais de 4 milhões de donos de negócios no Brasil na faixa entre 55 e 65 anos – 13,5% do total de empreendedores no país (29,7 milhões).
Esse número cresceu 42% entre o quarto trimestre de 2012 e o mesmo período de 2023. De acordo com o gerente de Estratégia e Transformação no Sebrae Nacional, André Spínola, o prolongamento da expectativa de vida do brasileiro – que hoje é de 76,4 anos, de acordo com o IBGE – e os baixos salários fazem com que muitas pessoas continuem trabalhando mesmo após a aposentadoria, em busca de uma complementação de renda.
No critério de empreendedorismo estabelecido (empresas com mais de 3,5 anos de operação), os dados do GEM mostram que 17,7% de todos os empreendedores sêniores se encaixam nesse recorte. Entre os empresários de 35 a 54 anos o porcentual cai para 14,3% e na faixa mais jovem, de 18 a 34 anos, reduzn ainda mais, para 7%.
Os mais velhos também têm renda superior. Segundo a Pnad, empresários sêniores ganham, em média, 4,3% a mais do que os empreendedores das outras faixas etárias. No grupo entre 55 e 65 anos, a renda média é de R$ 3.347, enquanto a média geral é de R$ 3.209. Para Spínola, o empreendedorismo, especialmente nas áreas de consultoria, serviços administrativos e franquias, “tem se mostrado um caminho viável para esse público”.
PERFIL
Os negócios liderados por pessoas mais velhas são predominantemente comandados por indivíduos brancos (56%- o que contrasta com a realidade dos empreendedores das faixas etárias jovem e intermediária, nas quais 58% se declaram pretos ou pardos.
A pesquisa GEM também aponta que os homens predominam em todas as faixas etárias e nos diferentes estágios dos negócios. A maior diferença aparece entre os empreendedores mais velhos, com 74% de homens contra 26% de mulheres.
A forte presença masculina no empreendedorismo entre 55 e 65 anos reflete também nos tipos de negócios abertos por esse grupo. Entre os jovens empreendedores, predominam atividades como cabeleireiros, tratamentos de beleza e o comércio varejista de vestuário e acessórios.
Já na categoria sênior, formada majoritariamente por homens, o foco recai sobre o comércio de ferragens, madeira e materiais de construção, além de restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas.
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